terça-feira, 24 de junho de 2014

Poema Classificado II



Brasilidade

Meu sangue mestiço, de latinidade pura
é viscoso feito óleo, é pegajoso visgo de jaca.
Alguns elementos químicos estranhos o contaminam
resquícios de algum malogrado bem-querer,
saliva e sódio do sal do último churrasco.
Alguns gramas de chumbo de emboscadas atravessadas incólume,
sebo de carneiro de ferimento antigo,
óleo de Copaíba, mercurocromo, mertiolate e sulfa
e porções de substâncias proibidas.
Espesso como cheiro de fêmea, denso de florestas tropicais.
Gotículas, aqui e acolá, de revolta, ira e desespero.
Um tantinho de bile, cachaça e fumaça de charuto
de despacho que, distraído, derribei em esquinas suspeitas.
Maleita não tem, AIDS, tifo, tuberculose, diarréia também não.
Quiçá cocos de doenças de rua...
Tem desejos meu sangue, traços de canto inconcluso,
rastilhos de poesia e o eterno tédio dos homens comuns
e o banzo ancestral, além de acordes de banjo...
Tinta de carimbo de alguma repartição, e um bom bocado de burocracia
descrédito e desconfiança asco e terror.

É um sangue comum, destes que não fedem nem cheiram,
mas que deságua, de geração em geração,
em brasileiros obstinados!

3º Lugar no Concurso Libério Neves de Poesia da Associação Comunitária de Moradores de Conjunto Califórnia (Belo Horizonte- MG) em outubro de 2012.
Publicado no jornal Fala Califórnia – Ano 17 – n.º 119 – dezembro/2012.






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