Bico de Papagaio. Foto: Alzira Silva.
Justiça
ou Vingança?
Sou
aficionado de séries, sobretudo policiais, de ação e de época. Gosto de filmes
dos gêneros citados e houve uma época em que também via novelas de época. E em
quase todos - séries, filmes e novelas - o vilão sempre morre, invariavelmente
assassinado ou em acidentes terríveis e espetaculares. Bom, partindo do
pressuposto de que essas produções refletem o pensamento de seus
telespectadores e alguns são de enorme sucesso, concluo que a maioria de nós
não quer justiça, mas antes, quer vingança.
Isto é fácil de se comprovar no cotidiano quando as pessoas dizem que
têm de matar o governo, o centroavante que perdeu o pênalti, o vizinho que nos
incomoda com seu som alto ou a sua costumeira folga, o bandido que assaltou ou matou, o policial que no
cumprimento de seu dever, por vezes extrapola. Enfim, não importa quem seja, a
maioria de nós está sempre pensando em uma boa vingança contra alguém. E muitos
transformam o desejo inicial em profissão de fé, devotam toda uma vida e alguns
chegam a realiza-lo.
Mas
porque a vingança e não a justiça? Há de fato um prazer mórbido em exterminar
outro ser humano que cometeu um erro, seja lá de qual gravidade for? O culpado,
se justiçado e bem justiçado, já não seria o suficiente para acalmar nossa sede
de sangue e mutilações? Não se pode dar uma segunda chance? Eu sou contra toda
e qualquer tipo de violência, principalmente da maior de todas elas que é o
assassinato. Sob quaisquer pretextos. Creio que a ninguém é dado o direito de
tirar, de quem quer que seja, aquilo que se não pode lhe dar ou restituir. E a
vida, uma vez ceifada, ninguém pode restitui-la. Tem um ditado que reza que “a vingança é um prato que se come frio”,
e nós, em nosso afã de comê-lo, enquanto o preparamos e esperamos que esfrie,
vamos nos envenenando, adoecendo, nos auto martirizando até que não reste nada
de humano em nós, apenas o lobo do homem.
Claro
está que se gentileza gera gentileza, violência gera mais violência. Há casos,
principalmente no interior, de famílias rivais que vêm se matando há séculos,
sem encontrar, de fato a paz que a justiça proporcionaria e que a vingança, ao
contrário, distancia. Vocês podem dizer-me que não há justiça em nosso país e
eu concordo que ela seja tardia, inconfiável e falha, chegando em alguns casos,
quando envolve sobrenomes famosos ou donos de fortunas, inclusive, inexistente.
Mas daí a querer tomar a justiça nas próprias mãos e nos fazer de juiz e algoz,
sem ofertar ao culpado a devida e necessária defesa, com isto eu não posso e
nem vou concordar nunca. E só lembrando que a morte é o fim de tudo, é o fim do
culpado, mas também do arrependimento; é o fim da vida, mas também da desonra.
Mas, uma coisa ela não finaliza, pode ser o fim de quem nos causou o mal, mas
não é o fim do mal em si e nem da nossa dor.
Uma
excelente semana a todos com muito amor e justiça.
Publicação em minha coluna FIEL DA BALANÇA no blog OCEANO NOTURNO DE
LETRAS – Rio de Janeiro (RJ), em 11/9/17.
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