Louva Deus. Foto: Francisco Ferreira
Marionetes
Estou convencido
de que, quanto mais radicalizamos em nossas convicções ideológicas e tentamos
confrontar as convicções daqueles que nos são contrários, tanto mais fazemos
o jogo de interesses dos poderes podres e corrompidos, até o pescoço, da Nação.
Ao governo interessa esta dicotomia e confrontação entre direita e esquerda
(que na verdade nem existe de fato, uma vez que a fronteira ideológica é tênue
e sem vigilância. Não há muros, sequer um traço de giz, que delimitem estas
correntes no Brasil, elas se confundem, se misturam e se aglutinam de acordo
com os interesses), quanto mais se polariza, melhor se domina o lado (que
apoia) e se anula o outro (que se opõe). Lendo as postagens sobre as
manifestações de ontem, 28 de abril, nas redes sociais me deparo com, de um lado, os que são
favoráveis defendendo o conceito de Greve Geral, da grandeza do movimento e
seus efeitos positivos. Do outro, os que são contrários, desaprovando-o,
ridicularizando e principalmente tentando criminalizar e partidarizá-lo.
Cometem a desfaçatez de generalizar, chamando a todos de vagabundos, vândalos e
o escambau.
Ora, houve uma
grande manifestação em todo o país de pessoas que são contrárias as reformas propostas
pelo executivo que conta com a anuência vergonhosa do legislativo e o olhar
complacente do judiciário, sem consulta popular, que é a quem realmente
interessa e quem sofrerá os impactos – sejam eles positivos ou negativos -.
Houve greves generalizadas, violência e vandalismo tanto dos manifestantes
quanto dos órgãos repressores. Houve o grito das ruas. Se surtiram ou surtirão
algum efeito, só o tempo poderá dizer. Mas, daí a querer dizer – como foi dito
pela mídia aberta – de que era uma meia dúzia de quatro ou cinco gatos
pingados, fazendo desordem, é querer tapar o sol com a peneira e de um
tendencionismo descabido e vergonhoso. Vejo gente tentando comparar o movimento
do Brasil com o da Palestina, para menoscabar o tupiniquim. Isto é o mesmo que
comparar o olho do sol, com outros olhos. E, ao fim, tanto lado A, quanto lado
B, fazem muito barulho, se digladiam e desviam o foco do que deveria ser de
fato e o objetivo comum: pressionar os poderes constituídos para botar a Nação
nos trilhos. E em casa onde falta o pão, todo mundo fala, mas ninguém tem
razão.
Ao final de
tudo, não saímos do lugar, com um lado atacando o outro num debate sem fim e que
só interessa a minoria dominante. Enquanto perdemos tempo, gastamos saliva e o
nosso latim, quebramos empatia e amizades por sermos radicais em nossas
convicções, muitas vezes eivada de vícios e erros. Danificamos nossa saúde ao
nos exaltamos e discutirmos, nos enervamos e aumenta o stress, a PA, a
pulsação. O debate de ideias que deveria existir e apontar para um consenso e
apresentação de soluções, vira uma briga de torcidas, uma cruzada, um bate boca
pessoal, ofensivo e inócuo. E, novamente, quem se beneficia disto é quem está
no comando das cordas, nos fazendo de marionetes.
O Brasil passa
por uma crise sem precedentes, tanto política e econômica, quanto de credibilidade
e governabilidade. Talvez seja eu um tanto quanto pessimista e receoso, mas
temo demais pelo nosso futuro enquanto Nação democrática. Somos um barril de
pólvora, esperando aquela mínima faísca para explodir. O palco está montado, os
atores de prontidão e o roteiro recebendo os últimos ajustes para entrar em
cartaz a peça “Ditadura Outra Vez”. E o que fazemos nós? Ficamos de mimimi na
internet, trocando farpas, insistindo em dar, uns aos outros, as alcunhas de
mortadela, coxinha, petralha, reaça, trouxinhas e etc. E, enquanto isto, na
Sala da Justiça, nos Palácios e na Caserna são tramadas as cenas dos próximos
capítulos...
http://oceanonoturnodeletras.blogspot.com.br/2017/05/coluna-fiel-da-balanca.html?spref=fb
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