Flor Silvestre. Foto: Francisco Ferreira.
Ostracismo
Clístenes,
considerado o Pai da Democracia, criou em Atenas no século V a. C., a punição
por ostracismo que tratava-se do banimento ou deportação por dez anos de cidadãos,
normalmente políticos, que atentavam contra a Liberdade Pública. Nada mais era do que prover os cidadãos com
um pedaço de cerâmica, chamado óstraco, onde se escrevia o nome do cidadão/político
para quem se queria o ostracismo. Os arcontes apuravam a quantidade de óstracos
e, em passando de seis mil, apontava o vencedor. Aquele que tivesse mais votos
iria para o ostracismo.
Embora
aqui no Brasil, de quatro em quatro anos, tenhamos a oportunidade de colocar
políticos no ostracismo, a nossa tendência é de fazer exatamente o contrário:
mantê-los incólume. Passamos quatro anos execrando-os em redes sociais, nas
conversas de boteco e esquinas, mas por desinteresse, preguiça de pensar ou
favorecimentos ilícitos, eternizamo-los no poder, fazendo o caminho inverso. É
muito comum vermos eleitores andarem feito verdadeiros outdoors humanos durante
toda a campanha eleitoral, portando propagandas de candidatos, sobretudo para o
legislativo, mas que no momento da posse destes mesmos candidatos, não se
lembram mais em quem votaram. E a bagunça se generaliza.
Os
nossos políticos, mui sabidamente e capitaneados pela grande mídia, perpetuam
aquela máxima de que “todo político é
igual”. Com isto favorecem aqueles que são verdadeiramente iguais e cujo
interesse é apenas pessoal ou de seu grupo. E, quando vimos os fenômenos
tiriricas, cuja campanha foi “pior do que
está não fica”, serem eleitos com grande margem de votos, temos a certeza
de que o brasileiro dá mais valor ao resultado dos jogos de seu time, do que ao
presente e futuro da Nação. E todos nós sabemos que, a cada ano que passa, fica
muito pior, com o nosso sistema eleitoral favorecendo este tipo de conduta.
Com
a desgovernabilidade que se encontra
a nossa Nação, neste caos político e institucional que só se aprofunda, esta é
uma boa oportunidade de refletir sobre nossa postura diante das campanhas
eleitorais, dos partidos, das correntes ideológicas e dos nomes que iremos
mandar para o ostracismo ou para o poder, nas eleições do ano que vem. Confesso
que estou completamente desesperançado com o futuro do Brasil, em meio a esta
desordem generalizada, a corrupção em todos os poderes e em todas as esferas da
administração pública. Mas me pauto nas palavras do meu avô paterno quando
dizia: “o que está muito ruim, está
próximo de melhorar” e, pelo que se percebe, não tem como piorar mais.
Apesar do Tiririca.
Nós
sabemos muito bem que não existem políticos santos, com as mãos completamente
limpas no Brasil, que não existem partidos corretos e que os conchavos são
muitos e que jamais saberemos da total complexidade deles; que o radicalismo de
ideologias foi disseminado por pessoas que têm interesse em que se divida a
Nação em duas facções que se digladiam diuturnamente e que, quanto mais
ferrenha for esta contenda, melhor para estes grupos; que têm ideologias que
beneficiam uma parcela da população em prejuízo à outra e a reciproca também é
verdadeira. Sabemos perfeitamente que, em voga estão os interesses financeiros
de grupos muito poderosos. Cabe-nos a árdua tarefa de pensar, refletir,
esmiuçar os livros de história e a memória de pessoas que viveram as diversas
nuanças da política e administração nacional para que possamos formar nosso
próprio juízo e não sucumbirmos a opinião da mídia e nem ao lugar comum.
Salvadores da Pátria não existem, políticos sem interesses pessoais e de seus
grupos muito menos. O que temos de avaliar é até que ponto este ou aquele
político, desta ou daquela corrente ideológica será melhor, primeiro para a
Nação, depois para o nosso grupo e, em último lugar, a nós, enquanto
indivíduos.
Boa
semana a todos, com um “cadinho” mais
de esperança.
Publicação em minha coluna FIEL DA BALANÇA no blog OCEANO NOTURNO DE
LETRAS – Rio de Janeiro (RJ), em 19/6/17.
Bem contextualizado e realista. Abraços
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