Desenho gentilmente cedido pela multi-artista Clevane Pessoa.
A César o que é de César
Há
mais de 40 anos atrás, eu ainda morava na fazenda e vínhamos à cidade por
ocasião das festas, campanhas de vacinação ou alguma doença que não se tratasse
com chás, simpatias e as mezinhas costumeiras, quando numa destas vindas, da
janela da casa dos meus avós em que debruçava-me para apreciar a cidade, vi
três rapazes, hoje doutos senhores e tidos e havidos como cidadãos de bem,
homens de peso e medidas; que, havendo capturado um gambá, despejaram gasolina
no animal e atearam fogo. Eu chorei, me revoltei e, mesmo depois de 4 décadas,
não tolero os tais “homens de três
alturas”, mas que na juventude foram tão cruéis com aquele bichinho. Esta
imagem me traumatiza até hoje.
Há
alguns anos vendo o filme Patriota (do
roteirista Robert Rodat, dirigido por Roland Emmerich e estrelado por Mel
Gibson), numa das sequencias o regimento comandado pelo capitão Willian
Tavington (Jason Isaacs) ateia fogo a
um templo cheio de idosos, mulheres e crianças. O filme é bom, apesar de
violento, mas essas cenas me chocaram e não consigo me recordar do filme sem
que elas não sejam as primeiras que venham à mente.
No
livro História Universal da Destruição de
Livros o autor Fernando Baéz diz
que “ao destruir com fogo, o homem brinca
de ser deus, dono do fogo da vida de morte.” E que “se se queima um homem, ele é reduzido aos seus quatro elementos
principais (carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio)”. Nesta semana um
homem desequilibrado, com sofrimento mental, adentrou a creche Gente Inocente,
na pequena cidade de Janaúba no norte de Minas Gerais e ateou fogo ao seu
próprio corpo, em funcionários e alunos, causando comoção nacional. Não estou
aqui para julgar e nem condenar a ninguém, não tenho este direito, mas não
posso calar-me diante desta tragédia. Ora, se o sujeito tinha problemas mentais (quem não os tem, em
graus diferentes?) ele não poderia estar apto a continuar desempenhando suas
funções, sobretudo no convívio com crianças indefesas. Onde estava o aparato do
Estado em proteger este ser de si mesmo e garantir que ele não fizesse mal a si
próprio e nem aos outros? Um dos grandes responsáveis por isto é sistema
previdenciário e seus processos lentos e irresponsáveis em marcar perícias e
pagar pontualmente os benefícios; o que leva muitas pessoas a continuarem a
trabalhar mesmo sem ter as mínimas condições físicas e principalmente
psicológicas.
Lembro-me
de uma colega de trabalho que ao receber seus salários e os mesmos não serem
suficientes para quitar o total de seus débitos no supermercado, rasgou todo o
dinheiro e que noutra ocasião ameaçou de ferver um litro de leite e atirar no
rosto da atendente do caixa de outro supermercado, alegando que ela havia lhe
vendido leite estragado. E, mesmo fazendo uso dos famosos tarjas pretas não conseguiu afastamento do trabalho, vindo
aposentar-se por idade. Ela também convivia diariamente com crianças e só, por
muita sorte, não cometeu barbaridades. Conforme disse anteriormente, não me
compete julgar este ou aquele, mas que alguém precisa responder criminalmente
por estes fatos, disto ninguém duvida.
Uma
excelente semana para todos e repleto de boas notícias apenas.
Publicação semanal em minha coluna FIEL DA BALANÇA no blog OCEAANO
NOTURNO DE LETRAS – Rio de Janeiro (RJ), em 9/10/17.
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