Desenho gentilmente cedido pela poeta e artista Clevane Pessoa.
Da Perdição de Nosso Povo e da Falta da
Besta Madrinha
Há
alguns anos atrás uma piada racista e de mau gosto dizia que a Lei Aurea,
documento de 13 de maio de 1888 que aboliu a escravatura no Brasil, havia sido
assinada a lápis e que seria apagada, quando do seu centésimo aniversário.
Embora criminosa essa piada, está se tornando profética, diante das sucessivas
perdas de direitos trabalhistas que vêm sendo impostas ao trabalhador
brasileiro e mais recentemente, com esta aberração que foi as mudanças no texto
das leis que caracterizam o trabalho escravo. A Lei dos Sexagenários, de 1885,
já havia sido desmanchada quando se alterou os limites para se aposentar,
excedendo-se os 60 anos de vida para que aconteça. Nas décadas de 30 e 40 do
século passado na chamada Era Vargas avançamos enormemente em conquistas
trabalhistas: foi
definida a carga horária de trabalho semanal em 48h, Instituiu o descanso
remunerado e as condições de segurança e higiene dos locais de trabalho,
entre outras coisas. Muitas delas estão sendo vergonhosamente retiradas pelo
atual governo, infelizmente com a conivência pecaminosa de nosso povo. Mas, isto são outros quinhentos.
Nosso povo que, de
repente e não mais que de repente, se politizou ao fórceps e à força de
campanha muito bem orquestrada em redes sociais e na grande mídia, que foi para
as ruas travestido de patriotas que entendiam tudo de política, hoje, feito
tropa sem a besta madrinha, fica de mimimi, apegando-se à modinhas e uma vez
mais travestido de paladinos da moral, dos bons costumes e de defensores da
família. Ora, que família que defende? Dia destes postei em meu perfil no
facebook que: É tanta gente falando de família, defendendo a família, brigando pela
família que imagino que o Brasil seja, de fato, um paraíso; que não tenhamos
nenhuma criança explorada, violentada, abandonada, agredida, sem o nome do pai
em sua certidão, frequentando a escola e aprendendo e não sendo catapuldada de
séries (ou anos); que não tenha nenhum idoso sendo explorado, agredido,
violentado, abandonado, sendo assistido, não tendo de trabalhar sem aguentar
para sustentar filhos inúteis e netos mal planejados; que não tenha nenhuma
mulher sendo morta, espancada, violentada, explorada, vista apenas como objeto,
sustentando companheiros inúteis e filhos; nenhuma adolescente grávida, nada!
Hipocrisia tem limite! E é exatamente o que penso.
Nosso povo está perdido e se apegando em quaisquer situações para não se sentir
o que é de fato: um bando de ignorantes, sem instrução e que palpita de forma
radical em assuntos de que não entende nada. Viraram-se para o lado das artes e
das religiões não-cristãs (ou pelo menos que não se escudem sob as
nomenclaturas de católicos ou evangélicos). Retornamos ao obscurantismo da
Idade das Trevas, ao fanatismo da era da Inquisição ou da perseguição aos
primeiros cristãos.
Deixando a religião e a política de lado – isto suscita discussões sem
fim – e pautando apenas na arte, também me expressei no facebook: Impressiona-me a capacidade do brasileiro em
se tornar expert em qualquer coisa de uma hora para a outra, de repente todo
mundo sabe tudo de arte e eu, burro feito um jegue, não sei nada! Da arte,
gosta-se ou não se gosta, mas não se censura, nem se ataca e nem se proíbe.
Uma boa semana, com muita arte.
Publicação semanal em minha coluna FIEL DA BALANÇA no blog OCEANO NOTURNO DE LETRAS - Rio de janeiro (RJ) - em 23/10/17.
http://oceanonoturnodeletras.blogspot.com.br/2017/10/coluna-fiel-da-balanca_23.html
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