segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Textos Publicados 2017 - 061 (N.º 616 - Ano IV)


Desenho gentilmente cedido pela poeta e artista Clevane Pessoa.

Da Perdição de Nosso Povo e da Falta da Besta Madrinha



Há alguns anos atrás uma piada racista e de mau gosto dizia que a Lei Aurea, documento de 13 de maio de 1888 que aboliu a escravatura no Brasil, havia sido assinada a lápis e que seria apagada, quando do seu centésimo aniversário. Embora criminosa essa piada, está se tornando profética, diante das sucessivas perdas de direitos trabalhistas que vêm sendo impostas ao trabalhador brasileiro e mais recentemente, com esta aberração que foi as mudanças no texto das leis que caracterizam o trabalho escravo. A Lei dos Sexagenários, de 1885, já havia sido desmanchada quando se alterou os limites para se aposentar, excedendo-se os 60 anos de vida para que aconteça. Nas décadas de 30 e 40 do século passado na chamada Era Vargas avançamos enormemente em conquistas trabalhistas: foi definida a carga horária de trabalho semanal em 48h, Instituiu o descanso remunerado e as condições de segurança e higiene dos locais de trabalho, entre outras coisas. Muitas delas estão sendo vergonhosamente retiradas pelo atual governo, infelizmente com a conivência pecaminosa de nosso povo. Mas, isto são outros quinhentos.

Nosso povo que, de repente e não mais que de repente, se politizou ao fórceps e à força de campanha muito bem orquestrada em redes sociais e na grande mídia, que foi para as ruas travestido de patriotas que entendiam tudo de política, hoje, feito tropa sem a besta madrinha, fica de mimimi, apegando-se à modinhas e uma vez mais travestido de paladinos da moral, dos bons costumes e de defensores da família. Ora, que família que defende? Dia destes postei em meu perfil no facebook que: É tanta gente falando de família, defendendo a família, brigando pela família que imagino que o Brasil seja, de fato, um paraíso; que não tenhamos nenhuma criança explorada, violentada, abandonada, agredida, sem o nome do pai em sua certidão, frequentando a escola e aprendendo e não sendo catapuldada de séries (ou anos); que não tenha nenhum idoso sendo explorado, agredido, violentado, abandonado, sendo assistido, não tendo de trabalhar sem aguentar para sustentar filhos inúteis e netos mal planejados; que não tenha nenhuma mulher sendo morta, espancada, violentada, explorada, vista apenas como objeto, sustentando companheiros inúteis e filhos; nenhuma adolescente grávida, nada! Hipocrisia tem limite! E é exatamente o que penso. Nosso povo está perdido e se apegando em quaisquer situações para não se sentir o que é de fato: um bando de ignorantes, sem instrução e que palpita de forma radical em assuntos de que não entende nada. Viraram-se para o lado das artes e das religiões não-cristãs (ou pelo menos que não se escudem sob as nomenclaturas de católicos ou evangélicos). Retornamos ao obscurantismo da Idade das Trevas, ao fanatismo da era da Inquisição ou da perseguição aos primeiros cristãos.

Deixando a religião e a política de lado – isto suscita discussões sem fim – e pautando apenas na arte, também me expressei no facebook: Impressiona-me a capacidade do brasileiro em se tornar expert em qualquer coisa de uma hora para a outra, de repente todo mundo sabe tudo de arte e eu, burro feito um jegue, não sei nada! Da arte, gosta-se ou não se gosta, mas não se censura, nem se ataca e nem se proíbe.

Uma boa semana, com muita arte.

Publicação semanal em minha coluna FIEL DA BALANÇA no blog OCEANO NOTURNO DE LETRAS - Rio de janeiro (RJ) - em 23/10/17.

http://oceanonoturnodeletras.blogspot.com.br/2017/10/coluna-fiel-da-balanca_23.html






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