Fonte: Arrecifesdecordeis.zip.net
Cantador, se quiseres cantar; veja que te não aconselho, os tempos são difíceis!
Mas se imperativo for, que cantes aleluias às alegrias da chuva nova
na poeira velha e o cheiro bom do bom barro de telha branco.
Ou o ocre dos ceramistas, o branco das terracotas e o ocre dos santeiros
nos cheiros molhados dos terreiros.
Não é que te queira ensinar o ofício de padre dizer missa (longe de mim)
é que os tempos são de seca, são difíceis.
O mundo está sinistro, digo isto só para parecer mais jovial.
Mas se quiseres calar (veja que não te censuro).
Se acaso, porém insistires, que cante a paz.
As harmonias de abelhas e vespas e formigas em seu fatigar - operárias em construção –
na produção de alimentos e no tornar fronteiras mais seguras.
Vidas mais úteis, vidinhas miúdas...
Ah, cantador, se os governos fossem assim, tão eficientes!
Seríamos formigas maiores e mais úteis, te garanto! E nossas vidas, melhores.
Não que me queira queixar é que a seca destes tempos sombrios
tornou agreste a minha alma e desertificou o meu espírito.
O nosso destino de veredas é alimentar rios.
Se calado, quiseres cantar e depois emudecer, (veja que não te pressiono, nem apresso),
já que, por ti, tenho tanto apreço.
É que nestes tempos secos de dificuldades, cantar é dorido.
Mas se de todo, quiseres te expressar, que cantes jardins, belezas de moral em cachos,
canteiros floridos de ética, floradas de justiça e leiras e leiras de democracia.
Não é que te queira dizer o que dizer é que aqui, ao sul do equador,
são tempos de seca, qualquer fagulha pode atear incêndios e tiranias.
Classificado no II Concurso Literário "Justiça e Igualdade Social" - São Paulo (SP) - 2015
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