quinta-feira, 9 de março de 2017

Textos Publicados 2017 - 16 (N.° 431 - Ano III)

Rosa. Foto: Francisco Ferreira.

Pesos e Medidas



Quero tratar de um assunto que ganhou visibilidade nos últimos dias que é a suposta agressão (como não fui testemunha do ocorrido e a senhora, suposta vítima, mudou suas alegações, só posso afirmar que é “suposto”) do cantor sertanejo Vítor, á sua esposa. Para começo de prosa: abomino visceralmente toda forma de violência e, sobretudo, a violência doméstica que parece ser institucionalizada no Brasil. Não consigo entender o que leva um sujeito a agredir a mulher com quem ele escolheu para viver, ser sua companheira e cúmplice, dividir com ela suas maiores intimidades, ser mãe de seus filhos. E, já radicalizando, em minha opinião os machões que gostam de bancar os “bichos brabos” com mulheres, em sua maioria, afinam igual a corda de viola caipira, quando tem de enfrentar outros homens. Mas isto também já é de foro íntimo deles, eu da minha banda, sou mais adepto do carinho.

Se agrediu, não sei. Acredito que sim. E, em tendo agredido, tem de ser tratado e punido como agressor e covarde, independentemente de ser artista, jogador de futebol, empresário ou o Zé Ruela de qualquer canto escuro deste país. Mas este “tratamento” a que me refiro tem de ser dado por quem de direito e não por um bando de gente infeliz que, não tendo visibilidade alguma na vida, se aproveita de situações parecidas, para canalizar suas frustrações, atirando farpas para todos os lados, condenando e executando sem dar direito de defesa e ganhar os famigerados likes em redes sociais. Muitos dos que querem a cabeça prateada do sujeito numa bandeja, têm a mesma reação quando assistem a fatos semelhantes nas ruas, nos coletivos, na vizinhança? Quantos dos que o condenam, se rebelam ao ver canalhas aproveitadores se encostando maliciosamente em pessoas do sexo feminino (de idades variadas) e demonstram a mesma indignação? Ora! Atirar pedras, quem tem mãos, as atira; acertar o alvo, é que outra questão. Cão danado, todos a ele.

Temos de perder esta mania pueril de endeusar artistas, políticos e jogadores de futebol. Não passam de pessoas comuns que foram agraciados pela natureza com algum talento e que tiveram a sorte de, em se servindo destes talentos, ganhar alguma notoriedade na vida. Nada mais. Sentem fome, sede, desejos, medo e dor como qualquer um de nós; tem vômitos, gases, defecam e sangram como todo o mundo; têm monstros interiores, segredos e esqueletos no armário igual a gente normal que tem de trabalhar para viver (não desmerecendo o trabalho daqueles), afinal, quem não trabuca, não manduca. Mas, da mesma maneira que são endeusados, viram demônios de uma hora para outra.

Não sou fã do cantor em questão (minha preferência musical é outra), não estou advogando em sua causa e também não tolero agressores e creio firmemente de que todo aquele que comete crimes - e agredir uma mulher grávida deve ser visto como crime e crime hediondo -  mas acredito que todos indistintamente, independente do crime que tenham cometido ou da posição que tenham na vida, devem ter assegurados o amplo direito de defesa e se condenados, devem ser por quem tem o dever de julgá-los. E, principalmente, devemos dar o mesmo tratamento ao sertanejo famoso e ao vizinho bêbado que chega em casa e desconta suas frustrações na esposa e nos filhos. Se nos utilizarmos de dois pesos e duas medidas, somos tão canalhas quanto... ou até mais.

Boa semana, lembrando-nos de que gentileza gera gentileza.

Publicação da semana em minha coluna fixa FIEL DA BALANÇA  no blog OCEANO NOTURNO DE LETRAS - Rio de Janeiro (RJ) em 8/3/17.


http://oceanonoturnodeletras.blogspot.com.br/2017/03/coluna-fiel-da-balanca.html

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