Rosa. Foto: Francisco Ferreira.
Pesos
e Medidas
Quero
tratar de um assunto que ganhou visibilidade nos últimos dias que é a suposta
agressão (como não fui testemunha do ocorrido e a senhora, suposta vítima,
mudou suas alegações, só posso afirmar que é “suposto”) do cantor sertanejo
Vítor, á sua esposa. Para começo de prosa: abomino visceralmente toda forma de
violência e, sobretudo, a violência doméstica que parece ser institucionalizada
no Brasil. Não consigo entender o que leva um sujeito a agredir a mulher com quem
ele escolheu para viver, ser sua companheira e cúmplice, dividir com ela suas
maiores intimidades, ser mãe de seus filhos. E, já radicalizando, em minha
opinião os machões que gostam de bancar os “bichos brabos” com mulheres, em sua
maioria, afinam igual a corda de viola caipira, quando tem de enfrentar outros
homens. Mas isto também já é de foro íntimo deles, eu da minha banda, sou mais
adepto do carinho.
Se
agrediu, não sei. Acredito que sim. E, em tendo agredido, tem de ser tratado e
punido como agressor e covarde, independentemente de ser artista, jogador de
futebol, empresário ou o Zé Ruela de qualquer canto escuro deste país. Mas este
“tratamento” a que me refiro tem de ser dado por quem de direito e não por um
bando de gente infeliz que, não tendo visibilidade alguma na vida, se aproveita
de situações parecidas, para canalizar suas frustrações, atirando farpas para
todos os lados, condenando e executando sem dar direito de defesa e ganhar os
famigerados likes em redes sociais.
Muitos dos que querem a cabeça prateada do sujeito numa bandeja, têm a mesma
reação quando assistem a fatos semelhantes nas ruas, nos coletivos, na
vizinhança? Quantos dos que o condenam, se rebelam ao ver canalhas
aproveitadores se encostando maliciosamente em pessoas do sexo feminino (de
idades variadas) e demonstram a mesma indignação? Ora! Atirar pedras, quem tem
mãos, as atira; acertar o alvo, é que outra questão. Cão danado, todos a ele.
Temos
de perder esta mania pueril de endeusar artistas, políticos e jogadores de
futebol. Não passam de pessoas comuns que foram agraciados pela natureza com
algum talento e que tiveram a sorte de, em se servindo destes talentos, ganhar
alguma notoriedade na vida. Nada mais. Sentem fome, sede, desejos, medo e dor
como qualquer um de nós; tem vômitos, gases, defecam e sangram como todo o
mundo; têm monstros interiores, segredos e esqueletos no armário igual a gente
normal que tem de trabalhar para viver (não desmerecendo o trabalho daqueles),
afinal, quem não trabuca, não manduca.
Mas, da mesma maneira que são endeusados, viram demônios de uma hora para
outra.
Não
sou fã do cantor em questão (minha preferência musical é outra), não estou
advogando em sua causa e também não tolero agressores e creio firmemente de que
todo aquele que comete crimes - e agredir uma mulher grávida deve ser visto como
crime e crime hediondo - mas acredito
que todos indistintamente, independente do crime que tenham cometido ou da
posição que tenham na vida, devem ter assegurados o amplo direito de defesa e
se condenados, devem ser por quem tem o dever de julgá-los. E, principalmente,
devemos dar o mesmo tratamento ao sertanejo famoso e ao vizinho bêbado que
chega em casa e desconta suas frustrações na esposa e nos filhos. Se nos
utilizarmos de dois pesos e duas medidas, somos tão canalhas quanto... ou até
mais.
Boa
semana, lembrando-nos de que gentileza
gera gentileza.
Publicação da semana em minha coluna fixa FIEL DA BALANÇA no blog OCEANO NOTURNO DE LETRAS - Rio de Janeiro (RJ) em 8/3/17.
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