quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Coluna Fixa "Fiel da Balança" (Blog OCEANO NOTURNO DE LETRAS - RJ) - 2017 - I (N.° 392 - Ano III)




Reconhecei-vos uns aos Outros



Não há nada que doa tanto quanto não termos reconhecidos os nosso trabalhos, esforços e potencialidades. Penso, inclusive, que seja isto um fator que faz perder muitos bons artistas, mundo à fora. Quando isto se dá na infância, corremos o risco de nos tornar preguiçosos, relapsos, desatentos e procrastinadores.  Sobretudo nesta fase precisamos do reconhecimento, apoio e daqueles “parabéns”, “muito bom”, e “você brilhou”. Talvez seja por isto que alguns professores atentos o façam de forma exaustiva.

Na adolescência há dois momentos bem distintos. Num primeiro, em que a rebeldia própria da idade nos faz contestar e em que o ser “desaprovado” – principalmente por pais, professores, familiares – nos aquece este sentimento e mandamos todo o mundo “às favas”, felizes por estarmos “causando”!  Em contrapartida, num segundo momento, sentimos de forma plena e urgente a necessidade de aprovação. Lembro-me bem de quando esbocei meus primeiros versos e da ânsia visceral de mostrá-los e receber a aprovação aos mesmos. Neste estágio fundamental da formação de nosso caráter, muitos bons poetas se trancam, e à suas obras, nas gavetas da insensibilidade dos que os cercam.

Já na fase adulta carecemos também da benesse do afago no ego, do sentir-se valorizado em família, no trabalho e no grupo. Se não se tem este valor reconhecido, tendemos a nos deprimir, nos tornarmos amargos, brutalizados e propensos a fazer nossos trabalhos de forma automática e desatenta e corremos o risco - em alguns casos -  de nos acidentarmos ou acidentar aos outros.

O reconhecimento é algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão expressivo que deveria ser objeto de um estudo à parte, uma disciplina curricular para que fosse treinado exaustivamente. Simples, uma vez que nos custa muito pouco. Por exemplo: elogiar o tempero da empregada doméstica que nos prepara a comida, o bom trabalho do rapaz do lava à jato em seu cuidado com o nosso automóvel ou á fineza do porteiro ou ascensorista (ainda existem?). Não podemos viver “bitolados” pela máxima de que “não passa de sua obrigação” ou de que “são pagos para isto”.  Reconhecer o valor e o esforço de outrem, muitas vezes, é de tudo o que aquela pessoa precisa, naquele dia, para sentir-se um pouco maior do que é. Mais útil. Fundamental mesmo. Feito a história daquele anão bem-dotado que depois de uma vida olhando para os outros de uma posição inferior tem seu momento de superioridade diagonal.

http://oceanonoturnodeletras.blogspot.com.br/2017/01/coluna-fiel-da-balanca_9.html


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