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Bestas
Humanas
Nesta semana que passou
tivemos a triste oportunidade de presenciar um evento dos mais degradantes e
que nos fez repensar sobre como é desumano ser humano. Foi muito veiculado em
redes sociais, seres humanos(?) regozijando-se, fazendo piadas de gosto
duvidosíssimo e alegrando-se com a gravidade da doença da ex-primeira dama.
Isto doeu-me e me envergonhou como a um soco na cara. Há que ponto o ser humano
pode se tornar tão baixo e mesquinho pela paixão ideológica ou clubística? Ora,
independente da corrente política que a pessoa siga, de para qual time ela
torça ou quaisquer das suas escolhas individuais, a senhora em questão merecia,
no mínimo, o respeito como ser humano e com direito à vida, tanto quanto
qualquer outra pessoa.
Fez-me lembrar de uma frase
que, na época em que a ouvi pela primeira vez, causou-me estranheza e asco,
porém, com o passar do tempo, passei a vê-la com olhos de maior
condescendência. A frase em questão é: “quanto
mais conheço as pessoas, tanto mais gosto dos meus cachorros”. Sou daqueles
que respeitam e amam a vida, seja ela vegetal, animal ou humana, e não poderia
me furtar de expressar minha revolta com tamanho despautério e vilania.
Acredito que toda e qualquer forma de existência é importante e deve ser
respeitada, valorizada, conservada e protegida. E pergunto-me: que nível de
infelicidade é este que leva alguém a se alegrar com a doença alheia? Que
morbidez, insensibilidade e incompetência moral e espiritual é esta? Lembrou-me
também do presidente daquele clube rebaixado para a segunda divisão, no ano que
passou, considerando o mal desempenho, a má gestão e a incompetência de seu
time, tragédia maior do que as 71 mortes do voo que vitimou a Chapecoense. Daí, é impossível não preferir os meus
cachorros a essas bestas que insistem em ostentar um título que não lhas
pertence, o título de seres humanos.
É notório que vivemos a era
do egoísmo absoluto do “toma lá e dá cá”,
ou da “farinha pouca, meu pirão primeiro”,
entretanto é inconcebível a atrocidade de se desejar a morte de outrem por
quaisquer motivos, muito mais quando e se estes motivos são unicamente
ideológicos. “Todo mundo tem direito a
vida e todo mundo tem direito igual”, como reza a canção Rua da Passagem de
Arnaldo Antunes e Lenine. Acredito que para carregar o rótulo – embora os odeie
– de ser humano o ser deva ser, de fato, humano e isto exige que ela seja
humanista, solidário, democrata, sensível, gregário e que veja no outro a sua
própria representação, enquanto espécie.
Mas, para estes infelizes, parece que a sua própria humanidade seja um
fardo e não motivo de orgulho, vivam com ódio ao mundo e aos membros de sua
mesma espécie e que queiram se vingar de sua infelicidade em qualquer um que
tenha uma projeção um pouco maior do que a deles. Sua incapacidade é tamanha
que o simples fato do outro existir já lhes é motivo de intolerância. E fazem
ainda mais verdadeira e atual a frase do grande João Guimarães Rosa quando
afirma: “viver é muito perigoso.”
Publicação da semana no blog OCEANO NOTURMO DE LETRAS (Rio de Janeiro
- RJ) – Coluna: FIEL DA BALANÇA em 30/1/17.
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