Flor Silvestre. Foto: Francisco Ferreira.
Traços
Isto é inerente ao meu espírito inquieto: estar sempre destruindo meus totens para reconstruí-los mais tarde, numa tentativa de reconectar-me ao sagrado – parte espiritual de minha vida, que num dado momento, me desliguei! – Entretanto mantenho baús cheios de ídolos, representações de minha materialidade, de que, embora eu queixe, não consigo me libertar. Minhas gavetas de fantasmas...
Esta
realidade me confunde e faz com que eu me esqueça de quem realmente sou não o
fruto das fantasias que criei para sobreviver. Construindo mentiras com pedaços
de verdades, o avesso da realidade, minha própria mitologia. Um código secreto
sem palavras-chaves que o decifrem. Fazendo-me acumular muletas que se grudam
ao meu corpo como órgãos essenciais, me permitindo caminhar. Meus apêndices...
Isto
fez de mim um ser triste como no sorriso do palhaço – meu próprio reflexo
distorcido num espelho oxidado -. Um arremedo das possibilidades daquilo que
poderia ter sido, não texto mal traduzido em papel barato, no formato de
folhetim.
E
mesmo cercado pela massa turbulenta de rostos conhecidos – já vistos milhares
de vezes, jamais vistos ou que jamais se verão – minha alma está deserta. Ainda
que em meio ao chapinhar de gentes nesta selva de pedras em estonteante
velocidade, meu espírito queda-se inerte. Embora minha boca pronuncie milhares
de palavras – na língua mater e em outras -, meus ouvidos as escutem e os
morros as ecoem; meu coração permanece mudo. Destarte eu veja e registre cores,
fatos e imagens aos milhões, meu ser tateia cego nas sombras.
O
supra-sumo da solidão...
Publicação da semana no blog OCEANO NOTURMO DE LETRAS (Rio de Janeiro
- RJ) – Coluna: FIEL DA BALANÇA
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