Orquídea. Foto: Francisco Ferreira.
Com "P" de
...
Um pedreiro amigo
nosso, de certa feita, fazia um símbolo católico na fachada da capelinha do
cemitério local, por ocasião de sua reforma. Um sol que Deus dava. Suando
bicas, queimando as mãos com cimento e “troncho” de ressaca. Faz, desmancha,
torna a fazer... Finalmente, auto aprovou o serviço, que na verdade, ficou
“maisómeno mar-mar.” Nisso, chegam para visitar a obra, o vigário na companhia
de uma freira. A irmã olha, balança a
cabeça, faz beiços, caras e bocas, esquadrinha daqui e dali e interpela o
pedreiro:
-- Seu J., o senhor
já reparou que este “P” está meio torto? Não está não padre?
--É Irmã, está sim!
O amigo, já
desgraçado da vida, retruca:
-- Olha irmã, tem “P”
de tudo quanto é jeito. “P” de padre, “P” de puliça, “P” de promotor,
"P" de pedreiro... Este aí está torto porque é “P” de puta.
Esta anedota é verídica e se passou na minha cidade, Conceição do Mato
Dentro (MG). Me utilizo dela para fazer uma reflexão acerca do cotidiano. Temos
o costume de, muitas vezes, desvalorizar o esforço e o trabalho dos outros. É
obvio que, quando contratamos os serviços de um profissional, queremos um
trabalho próximo da perfeição, afinal, pagamos por aquele serviço. Mas no caso
de nosso amigo em tela, um simples pedreiro, que aprendeu a profissão na
prática, exigir-lhe o serviço de um artista plástico foi injusto. E, portanto,
a sua zanga e má resposta à freira são muitíssimos justificados. Normalmente
quando contrato os serviços de um oficial (pedreiro, carpinteiro, pintor, etc.)
não costumo regatear no preço. Se acho que está justo, pago satisfeito, caso
contrário, procuro por outro; mas sempre valorizando e respeitando o
profissional! Se não sei ou não posso fazer, só me pagar pelo serviço.
Nós, escritores iniciantes, sentimos esta desvalorização até nos ossos.
Quando oferecemos um livro, costumam dizer logo que está caro – embora eu ainda
não tenha livro individual, quando participei das minhas três primeiras
antologias, entusiasmado, coloquei 30 exemplares a venda na agência local de um
grande banco público e venderam apenas 3 exemplares. Isto foi que me desmotivou
a editar. Mais recentemente recebia centenas de elogios, curtidas e tinha
muitos dos meus textos compartilhados no facebook todos os dias, então
novamente coloquei à venda, naquela rede social, 5 exemplares de uma outra
antologia, ao preço de duas garrafas de cerveja cada. Adivinhem? Não vendi
nenhum e ainda teve amigo que brigou, querendo o livro de graça. – É lamentável
como no Brasil (digo isto sem muito conhecimento de causa, haja vista que não
conheço a política editorial de outros países e nem seus costumes) a cultura,
sobretudo a literatura é desvalorizada e os escritores se vêm obrigados
mendigar para ter seus textos editados, lidos e vendidos. Há uns anos atrás o
governo federal lançou o programa “Vamos fazer do Brasil um país de leitores”,
sem, contudo fazer nada para valorizar o escritor. Como se cria leitores (consumidores), se não
se tem livros (produto) e se não valorizam o escritor (produtor)?
Por isto, meus prezados, quando
tivermos de avaliar o trabalho do outro, coloquemo-nos em seu lugar e
aprendamos a valorizar o talento alheio. Excelente semana a todos.
Publicação da semana no blog OCEANO NOTURMO DE
LETRAS (Rio de Janeiro - RJ) – Coluna:
FIEL DA BALANÇA em 6/2/17.
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